O autor Mohamed Sarr reflete sobre a relação complexa com seu livro durante a Flip.





Meu Livro Se Vingou de Mim e Isso é Bom

Na última edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), o autor senegalês Mohamed Sarr, vencedor do prestigiado Prêmio Goncourt, compartilhou suas reflexões sobre a relação com o seu próprio livro. Para ele, “Os Dias de Asa”, seu romance, se tornou uma obra que, de certa forma, o desafiou e conseguiu se vingar dele. Essa metáfora é uma forma de descrever como um autor muitas vezes perde o controle sobre a narrativa que criou, uma vez que ela se torna independente e se conecta com os leitores de maneiras inesperadas.

A Experiência do Autor com Sua Obra

Sarr comentou que a percepção do seu trabalho mudou ao longo do tempo. Ele percebeu que, ao lançar um livro, ele se torna uma extensão de si mesmo mas também uma entidade à parte, que pode gerar reações e interpretações que desafiam sua própria intenção original. Essa reflexão trouxe uma leveza ao seu discurso, transformando a dor da separação entre autor e obra em um motivo de celebração.

A Conexão com os Leitores

Durante a conversa, Sarr destacou como a recepção do seu livro tem sido impactante. As histórias que os leitores compartilham sobre suas experiências ao ler “Os Dias de Asa” trazem um novo significado para a obra, fazendo com que Sarr perceba que seu romance não pertence mais apenas a ele, mas já se incorporou na vida de muitos. Essa interação demonstra a potência da literatura e a sua capacidade de criar laços inesperados entre autor e público.

Reflexões sobre a Autoria

O autor também refletiu sobre o conceito de autoria na era contemporânea. Para Sarr, os limites entre autores e leitores estão cada vez mais borrados. Essa nova dinâmica permite que os leitores se sintam como co-autores, contribuindo com suas próprias narrativas e interpretações, enriquecendo assim a experiência literária de forma conjunta. Essa ideia se alinha perfeitamente com a proposta da Flip, que é fomentar o diálogo e a interação entre diferentes vozes do mundo literário.

A Filosofia Por Trás da Escrita

A maneira como Sarr aborda a escrita também é digna de nota. Ele enxerga o ato de escrever como uma forma de explorar e entender o mundo. Para ele, cada palavra tem um peso, cada frase pode construir ou destruir significados. Assim, seu processo criativo é um caminho de autodescoberta, abordagens que ele compartilha com seus leitores. Portanto, o “vingar-se” de seu livro é, na verdade, um reconhecimento de que a literatura é um campo de múltiplas possibilidades.

Conclusão: A Literatura como uma Jornada Coletiva

A presença de Mohamed Sarr na Flip foi uma celebração não apenas de sua obra, mas também da literatura como um todo. Sua visão sobre a relação entre autor e obra sublinha que a escritura é mais do que um ato solitário; é uma viagem coletiva que ultrapassa as páginas do livro. Ele lembrou a todos que a literatura é uma conversa contínua, onde cada novo leitor adiciona sua voz, criando um eco que ressoa por muito tempo.


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